Perícia em apenas 53% dos contratos da usina
de Belo Monte revela desvio de dinheiro público em volume equivalente à metade
das perdas da Petrobras com corrupção, PT e PMDB são beneficiados.
É um colosso plantado na
Amazônia, no leito do rio Xingu, na altura de Altamira (Pará). Vai começar este
inverno com a quarta turbina instalada, depois de 41 anos de um conturbado
processo de planejamento e execução de obras.
Erguida em concreto
suficiente para a construção de 48 Maracanãs, a usina de Belo Monte se tornou
um majestoso monumento à fraude em negócios do setor público, a um custo que já
supera R$ 30 bilhões.
A primeira análise dos gastos
com construção, realizada por auditores por encomenda do Ministério Público,
revelou sobrepreço de R$ 3,3 bilhões. É o produto da soma de R$ 2,9 bilhões na
cobrança de preços acima do mercado e de R$ 400 milhões em despesas sem
fundamento, inconsistentes ou simplesmente injustificadas.
Isso foi apurado durante o
exame de apenas 53% dos contratos de obras civis, nos quais foram gastos R$ 7,7
bilhões. Os auditores não conseguiram ir além. Porque o grupo estatal
Eletrobrás (dono de 49,9% do do empreendimento) e a Norte Energia
(concessionária que funciona com 95% de capital público), “impuseram toda
espécie de dificuldades” à fiscalização — da entrega de arquivos eletrônicos
bloqueados à sonegação de informações, segundo o Tribunal de Contas da União.
Ainda assim, somente com a
perícia em pouco mais da metade dos contratos de obras de Belo Monte, já se
chegou a um volume de desvios de dinheiro equivalente à metade dos prejuízos
com corrupção declaradas pela Petrobras no balanço contábil de 2014, divulgado
em abril do ano passado.
O caso da hidrelétrica de
Belo Monte sugere a probabilidade do setor elétrico estatal vir a superar os
limites já conhecidos da criatividade em trapaças com dinheiro público, sob
cegueira deliberada — ou consentida — de líderes políticos, beneficiários
diretos ou indiretos nas planilhas empresariais de financiamento eleitoral.
Depoimentos de executivos das
empreiteiras que integram o consórcio construtor (Odebrecht, Andrade Gutierrez,
Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia e OAS) indicam que em Belo
Monte foi aplicada cobrança de propina numa base percentual de 1% a 1,5% sobre
contratos de obras e de equipamentos. Metade foi coletada para o Partido dos
Trabalhadores e outra metade recolhida para o PMDB.
Essa partilha de subornos foi
negociada por Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da
Casa Civil de Dilma, segundo executivos responsáveis pelos pagamentos das
empreiteiras. O objetivo era financiar campanhas eleitorais de 2010 e de 2014.
Há quatro décadas o Brasil flertava
com o projeto de uma super-hidrelétrica na Amazônia. Não havia nada além de uma
velha ideia. Construiu-se Belo Monte, para benefícios ao PT e ao PMDB.
Fonte: Coluna José Casado e
Uruará em Foco
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