O preço do boi gordo superou a marca de R$ 300 posr arroba, apontou o indicador Cepea/B3 na segunda-feira (1/2), novo recorde da série histórica iniciada em 1994. O motivo é a baixa oferta de animais prontos para abate e demanda externa aquecida.
Na última sexta-feira (29/1), o índice já havia encerrado janeiro com alta de 12,24% na variação mensal, a R$ 299,85 por arroba. Agora, a cotação chegou a R$ 301, avanço de 9,97% em relação ao mês anterior e salto de 53,4% no comparativo anual.
Mas o fraco desempenho nas cotações da carne no mercado interno preocupa analistas. Eles previam que os preços do boi gordo se aproximariam dos R$ 300, resultando em aperto para as margens dos frigoríficos que negociam a carne no mercado doméstico.
A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, disse que a carne bovina está indo bem no mercado externo, mas alertou que essa alta no preço do animal é perigosa do ponto de vista do consumo interno - considerando que cerca de 70% da proteína produzida é consumida no país.
"O preço da carne descolou do boi", disse a especialista. Se por um lado os frigoríficos conseguem remunerações elevadas com compradores internacionais, impulsionadas pelo câmbio, no Brasil o enfraquecimento do poder de compra da população em meio à pandemia e o fim do auxílio emergencial travam o avanço das cotações da proteína.
Levantamento da Scot Consultoria divulgado em boletim nesta segunda-feira (1/2) indica que, no acumulado da última semana, o preço médio de 22 cortes analisados no atacado caíram 0,3%. Desde o início do ano o valor dos cortes subiu, em média, apenas 1,8%.
A cotação dos cortes de traseiro, de maior valor agregado, caiu 0,6% na semana passada, e a dos cortes dianteiros subiu somente 0,4%.
"Estamos em um ciclo de alta de preços da arroba e a expectativa é de mercado firme, mesmo em que pesem as sazonalidades da safra. Mas o que assombra muito é o mercado interno", disse o diretor da Scot, Alcides Torres.
Segundo ele, a dúvida sobre até quanto o consumidor conseguirá pagar pela carne é o que se contrapõe ao cenário de preços em alta do boi, apertando as margens dos frigoríficos.
"Para a economia voltar à atividade precisaríamos ter resolvido o problema da pandemia, ter a vacina (para todos), e estamos patinando nessa questão. O desemprego ainda atrapalha mais", ressaltou.
Quanto à oferta de gado, ele disse que janeiro normalmente é um mês em que poucos pecuaristas estão vendendo boiadas "nas praças pecuárias", então "precisamos ver como será fevereiro".
Um fator que ajuda a encarecer o valor cobrado pelos pecuaristas é o aumento de custos com animais de reposição. Os pesquisadores do Cepea destacaram, em nota, que os animais de reposição (bezerro nelore, de 8 a 12 meses) também foram negociados em patamares recordes em janeiro.
"Neste caso, o impulso vem do maior aumento do abate de fêmeas entre 2018 e 2019 e da forte demanda por reposição, devido à aquecida procura externa pela carne brasileira ao longo de 2020", disse o instituto. O indicador do bezerro calculado pelo Cepea chegou a R$ 2.811,77 por cabeça na última semana.
As exportações brasileiras de carne bovina fecharam 2020 com recorde e superaram pela primeira vez 2 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Os negócios foram impulsionados por uma firme demanda da China, país que ainda sente déficit de proteína animal em função de um surto de peste suína africana desde 2018. Para este ano, a expectativa é de que o recorde seja renovado, com 2,14 milhões de toneladas, prevê a associação.
O diretor da Scot Consultoria disse que, apesar do forte movimento de renovação do plantel suíno na China, as exportações de carne bovina do Brasil só para os chineses podem crescer entre 3% e 5% em 2021.
Por Reuters
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